sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

REFLEXÕES  - 1

" Que cada um pense o que quiser e diga sempre o que pensa", foi o que Espinosa proclamou no séc.XVI e que causou problemas à sua própria sobrevivência.
Ainda hoje dizer o que se pensa continua a ser um exercício de coragem e há muita gente, mesmo aqui entre nós, que não o pode fazer.
A cidadania exerce-se pela liberdade de expressão, através da qual  cada um de nós pode  e deve participar  para a formação da opinião publica, a "vontade geral"  de que falava Rousseau.  Não quero entrar numa prosa de "intelectualite" citando filósofos uns atrás dos outros, mas parece-me que apoiar as ideias em quem, muito tempo atrás  e com autoridade, já o fez, ajuda a cimentar as nossas convicções.
E é inevitável ir buscar aos clássicos as origens  do desenvolvimento de ideias que parece que as  descobrimos agora, procurando também descodificar a linguagem rebuscada, porque tem de ser rigorosa, dos eruditos.
Entre nós, é este o meu sentimento,  existe muita informação mas pouca formação; a escola é parca a ministrar conhecimentos das humanidades e da cultura geral, em todos os níveis de ensino,   e por isso a grande maioria da opinião publica, mesmo entre os mais informados, é pouco formada; e esta falta de formação é,  penso eu, uma das grande falhas dos novos tempos de democracia. Quarenta anos depois de implantado o regime democrático seria de esperar  que tivéssemos uma população com um nível de cultura geral capaz de ombrear com a maioria dos países europeus mais avançados. 
Mas não temos.
As gerações que em 74 estavam nos escalões etários activos tinham sido vítimas  da mediocridade cultural e política do regime anterior, e só uma minoria estava em condições de praticar uma democracia consciente e eticamente válida. Isto é particularmente chocante porque os portugueses revelaram sempre ao longo dos séculos, excepcionais  capacidades  de captar conhecimentos e de os  difundir pelo mundo - faltaram nas décadas anteriores as elites dirigentes e culturais capazes de enquadrar e dinamizar a sociedade.
Para uma opinião pública  culturalmente formada significaria, em meu entender, que desde a escola primária se começassem a "formar" as personalidades na diversidade de cada um mas no confronto com as grandes questões  da cultura geral : ter acesso ás noções de civismo. de ética, de compreensão da complexidade ambiental, do sentido da liberdade responsável.
A cidadania responsável que eu tenho como objectivo de vida deve ser praticada no quotidiano, reflectindo sobre a origem e a evolução das virtudes do Homem : o amor pela liberdade, o exercício´ da democracia , a interiorização do conhecimento. Como  dizia Gandhi, viver cada dia como se fosse o último, mas estudar e aprender como se fosse o primeiro.
A democracia que eu gostava de viver está ainda muito longe de ser alcançada.

Sem comentários:

Enviar um comentário